quarta-feira, 8 de outubro de 2008

A estratificação social

Entre o século XVI e fim do século XVIII, a Europa vive uma época que os historiadores designam, vulgarmente, por Antigo Regime e é na esfera politico-social que esta designação melhor se concretiza, transpondo-nos, para o tempo das monarquias absolutas e de uma sociedade hierarquizada em ordens ou estados sendo a ordem um correspondente a uma categoria social definida quer pelo nascimento quer pelas funções sociais que os individuos desempenham.
A cada ordem corresponde um estatuto juridico proprio e os seus elementos distinguem-se pelo traje e pela forma de tratamento.

São três as ordens ou estados em que se divide a sociedade:
- o clero ou primeiro estado que, por ser o mais próximo de Deus, é o mais digno.
Previlégios: isenção de impostos à Coroa e da prestação de serviço militar; Não está sujeito à lei comum mas sim ao "foro eclesiástico",
isto é, os seus membros regem-se por um conjunto de leis específicas (o Direito canónico) e são julgados em tribunais próprios.

O Clero é também uma ordem rica. Grande proprietário de todo o tipo de bens, o clero receve ainda, os dízimos e muitas outras ofertas dos crentes que pastoreia. Sendo o único estado que não se adquire por nascimentos mas pela tonsura(nome dado ao corte de cabelo dos eclesiásticos,que representava a entrada na ordem clerial), o clero aglutina elementos de todos os grupos sociais, desde príncipes a humildes camponeses.

O alto clero constitui-se com os filhos segundos da nobreza e agrupa todo um conjunto hierarquizado de cardeais, arcebispos, bispos e seus séquitos, bem como os abades dos mosteiros mais ricos. Vive no luxo e desempenha cargos na administração e na corte.

O baixo clero , geralmente gentes rurais, de vida simples e humilde. Competia-lhe os serviços religiosos,orientar espiritualmente os paroquianos e, também orientar a escola local, uma vez que a aprendizagem no seminário pouco mais lhes ensinava do que divulgar na missa em latim.

A disciplina, a juridição ecleciástico e a igreja continuavam a ser o centro da aldeia, tendo mesmo assim em competição as tabernas e as residências senhoriais. O clero regular perdeu o seu importante papel de desenvolvimento económico que tivera na Idade Média.
No nosso país, o número de conventos duplicou nos três séculos do Antigo Regime.

*A nobreza ou segundo estado:
A nobreza, é, a ordem de maior prestígio. É esta que cede ao clero os seus membros mais destacados e que ocupa, na administração e no exército, os cargos de poder.
Contém um regime jurídico próprio que lhe garante a superioridade perante as classes populares e, isenta do pagamento de contribuições ao rei, excepto em caso de Guerra.

As velhas famílias cuja origem nobre, constituem a nobreza de sangue ou nobreza de espada. Dedicada á carreira das armas, a espada é o seu simbolo e é-lhe permitido usá-la sempre. Os membros da nobreza de sangue subdividem-se em catagrias diversas e hierarquizadas.

No topo, os príncipes, duques e outros pares do reino que, na corte, convivem com o monarca. No pólo oposto, a pequena nobreza rural, respeitada, mas que só a custo de viver, com dignidade, dos rendimentos do seu pequeno senhorio. A esta nobreza juntoa-se uma nobreza administrativa, ou de toga, destinada a satisfazer as necessidades burocráticas do Estado.

Esta nobreza de toga, era de início olhada com desprezo pela velha aristocracia, nao tardou a fundir-se com ela pelo casamento. Senhorios pertenciam a magistrados e as novas geraçoes dividiam-se entre a carreira de armas e as magistraturas.

* O terceiro Estado
É a ordem mais homogénea, cujos membros tanto podem aspirar ás dignidades mais elevadas como vegetar na miséria mais extrema. Á cabeça do terceiro Estado encontram-se os homens de letras, respeitados pelo saber. Estão divididos em diversos grupos hierarquicos ordenados, a importância é conforme a função que exercem. Seguem-se os mercadores, profissionais de reconhecida utilidade.

Todos estes homens, podem usar o título de burguês, embora em escalões diferenciados, constituem uma elite do terceiro Estado. Os lavradores, os artesãos são os que executam o trabalho assalariado, estando assim em primeiro lugar.

Depois de hierarquizados todos os que produzem, restam aqueles que nao cumprem a funçºao social do Terceiro Estado, isto é, que não trabalham (mendigos,vagabundos, etc...) os mais desprezíves membros da sociedade das ordens.Ricos ou pobres, todos os elementos do povo pagavam impostos. A maior parte é constituida por camponeses.

* Diversidade de comportamentos e valores.
A diferenciação social deveria reflectir-se, no comportamento dos índividuos e no tratamento que os outros lhes dispensavam. Por isso, cada estrato tinha as suas ínsignias e os seus distintivos. Os nobres usavam a espada, que só eles estavam autorizados a usar.

Os bispos exibiam o anel eo báculo e os clérigos eram reconhecidos pela tonsura e pela batina preta. Batina usavam também os doutores. Cada um esperava receber o tratamento a que tinha direito. O título de honra, um rígido protocolo faziam parte da vida corrente das pessoas de alta condição. Esta diversidade de estatuto está plenamente consignada no exercício da justiça. Clérigos e nobres são isentos de penas vis.

Em compensação, os seus crimes são punidos com pesadas multas pecuniárias, com degredos e, em caso de pena máxima, são executados por decapitação. O Antigo Regime salda-se por uma ascensão do Terceiro Estado e pela decadência dos critérios sociais baseados no nascimento. Foi o dinheiro que abriu porta à burguesia conduzindo ao topo. A burguesia procurou os meios de superar o estigma que pensava sobre os novos-ricos.

A diferente postura perante a vida e a sociedade que ditou o percurso da nobreza e da burguesia. A primeira, agarrada aos privilégios de antanho( tempos antigos) e comprazendo-se nos sinais exteriores da superioridade; a segunda adoptou uma postura combativa, alicerçada no trabalho e no mérito pessoal, que lhe abriu as portas da ascensão social e do poder.

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